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7 de julho de 2014

À procura

Tempo
Autor: Fernanda Azougado



Meia dúzia de pessoas saem do comboio. Em silêncio. A estação renovada. Não olha pormenores. Sobe a avenida como se não tivesse destino. Vai andando. No Rossio, o silêncio já não é silêncio. Circulam automóveis e um som vindo dos céus, fá-la olhar o azul, único. Alto, muito alto, um monomotor rasga o sossego do céu.
Sente-se insegura, talvez não deveria estar aqui. Continua no seu passo, decidida.
Na praça central, senta-se numa das esplanadas. Sem pressa. Há paz. E silêncios cortados. E o sol a banhar-lhe o rosto.
Assusta-se quando o empregado lhe perturba os pensamentos. “ Um café, se faz favor.”
Não repara no jovem, sentado na mesa em diagonal á sua, supostamente alheio aos sons e silêncios.
Muitos minutos depois, levanta-se. Sobe a rua em direcção à Sé entre turistas e gente da terra. Entra e sai numa e noutra loja de artesanato, sem interesse, como se vagueasse num sonho.
Entra na catedral deserta. Memórias atropelam-se, quebrando a paz.
Na rua, um vento quente e seco abraça-a de mansinho.
Contempla o templo, sem tempo nem horas.
Em pequenos passos, chega ao jardim. Senta-se num banco, ao sol quente. Juras de amor eterno, beijos roubados, sonhos perdidos no tempo. Há tanto tempo!
Regressa á praça, lentamente, a esticar os minutos. Entra num táxi. “Boa tarde. Por favor, para Lisboa, aeroporto.”
No dia seguinte, uma foto multiplica-se em partilhas on-line.
“ Jovem atento, capta princesa em visita secreta às origens”.

2 de julho de 2014

Ontem, Hoje, Amanhã...Sophia

O Mar de Sophia














..." E de novo caminho para o mar.
     Sinto que hoje novamente embarco
     Para as grandes aventuras,
     Passam no ar palavras obscuras
     E o meu desejo canta---por isso marco
     Nos meus sentidos a imagem desta hora."...

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Hora" em "Dia do Mar", 1947