Pesquisar neste blogue

5 de novembro de 2013

Ponto a Ponto

Odete - Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos

" Com o decreto de lei de expulsão das minorias muçulmana e judaica, em 1496 (logo no ínicio do reinado de D. Manuel I) e o encerramento das oficinas da comuna muçulmana de Lisboa, crê-se que esses mesmos mouros e judeus teriam migrado para Sul do território, historicamente mais tolerante a nível religioso, e se teriam fixado em Arraiolos e aí iniciado a produção de tapetes."

Odete tece tapetes desde os cinco anos, as suas mãos ágeis criam em nós a ilusão de que é simples e rápido. Mas não é. Muita técnica e arte. Pergunto o que é mais difícil, responde sem desviar a atenção dos seus pontos: " as dores nas costas, mas habituamo-nos e quer-se fazer mais e mais para ver o resultado".


O Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos, instalado no antigo hospital na Praça do Município, foi inaugurado a 29 de Agosto de 2013. Espaço museológico de exposição e informação sobre a história e as técnicas do tapete, valorizando e promovendo este património mundialmente conhecido.
Pode ser visitado de terça a domingo das 10:00 às 13:00 e das 15:00 às 19:00

Sem pontos com passos...

Igreja da Misericórdia
 
 Coreto

 Ermida de São Romão

Castelo de Arraiolos
















4 de novembro de 2013

Nostalgia



..." Tu és a folha de outono
voante pelo jardim
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão."

Cecília Meireles, in "Canção de Outono"

24 de outubro de 2013

Um dia de chuva

Jardim Diana - Évora

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é."

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

22 de outubro de 2013

Fado vadio no bairro da Graça

Não desprezando o eléctrico 28, um percurso diferente para visitar a Tasca do Jaime no bairro da Graça, subindo pela Mouraria.
Mouraria, Lisboa

Da Mouraria à Graça
Subir à Graça pela Mouraria é provar um pouco da essência dum bairro típico alfacinha.
Entra-se por uma rua estreita nas traseiras do multicultural Centro Comercial da Mouraria. Segue-se o instinto, sem referências, sem pressa.
Na rua estreitinha frente a uma taberna, uns sentados nos degraus de casa outrora habitadas, outros de pé, homens que habitualmente se encontram, vindos de diferentes zonas de Lisboa, tendo em comum vidas vividas, lembranças de outras eras na Mouraria.
Continuando a subir, da janela de um segundo andar, D. Maria da Conceição responde a um "boa tarde". Há dois anos na Mouraria, a Câmara arranjou-lhe esta casa, vivia há décadas ao Chile mas o prédio está a ruir. Há muito que veio da Madeira, há anos que lá não vai e tem saudades. A antiga vizinhança ficou espalhada, aqui não sente o mesmo, diz que fala pouco com os vizinhos.
Subindo uma e mais outra rua chega-se ao miradouro da Graça, esplanada repleta de locais e turistas. Lisboa aos pés e o Tejo, o castelo de S. Jorge ao lado direito e, no oposto, um pouco mais acima, o miradouro da Senhora do Monte.
Passagem pela Vila Souza, uma das vilas operárias existentes no bairro da Graça. Excepção para a Vila Bertha, nome da filha do proprietário de uma quinta que decidiu urbanizar uma parte, direccionada à pequena burguesia. Comparativamente às restantes vilas, apresenta melhor qualidade, conservando até hoje a traça original, as varandas de ferro, as fachadas ornamentadas com azulejos e o chalet onde a família morava.
Tasca do Jaime, Bairro da Graça, Lisboa

Fado, pastéis de bacalhau, vozes e guitarristas e o deslizar do eléctrico 28
Laura recebe todos que chegam à Tasca do Jaime como se cada um fizesse parte da família. Uma grande família. Sorriso aberto convida quem espreita à porta, ou porque não conhece, ou porque tenta perceber se há um espaço naquela casa pequenina cheia de alma e de vida.
Balcão corrido do lado direito. Do esquerdo, uma fila com meia dúzia de mesas cobertas de toalhas aos quadrados vermelhos e brancos. No canto ao fundo, um microfone pendurado, a viola, a guitarra e os fadistas que vão rodando a cada duas músicas. Nas paredes, retratos de fadistas, folhas de imprensa emolduradas, um nicho com Nossa Senhora.
Consumir é uma imposição para quem se senta. Não só porque o espaço é pequeno mas porque é mais económico, muitos bebem ao balcão ou vêm à porta de copo na mão e um pastel de bacalhau. Jaime, ao balcão atende os pedidos dos fregueses.
"Não sou a dona, o dono é o Jaime, o meu marido". É Laura quem orienta. Quem manda calar quando o silêncio deve reinar para que se cante o fado. "O modo de lhes pagarmos. O silêncio."
"Somos conhecidos no mundo inteiro" - tira do bolso da bata uma folha A4 dobrada, entregue há pouco por uma turista americana que teve conhecimento do lugar no país de origem. Quando a voz do fado e as guitarras descansam, Laura fala e sorri sem parar.
"É engraçado, muitos que vêem aqui pela primeira vez são trazidos por turistas". E conta como o bairro se enceu de estudantes de todo o Mundo, no projecto "500 mãos do Mundo vão mudar o bairro da Graça". Mudaram e, todos ou quase todos passaram pela tasca.
O intervalo prolonga-se e há quem pergunte quando há mais fado. Laura vem à porta e chama os guitarristas entre eles o seu filho Duarte, 17 anos, para quem as cordas dançam nos dedos. E anuncia o próximo, um jovem fadista solta de si o fado vadio, sentido, com alma e emoção.
É este jovem que depois de actuar vem à porta e, rodeado de jovens e menos jovens, conta a história do fado, entre poemas seus, desfilando retalhos de renome do fado como Alfredo marceneiro, Carlos Ramos, Fernando Maurício, Hermínia Silva, Amália Rodrigues, entre outros. O fado é a sua vida. "Deito-me com o fado, acordo com o fado", diz, e toda a sua postura o confirma. Lá dentro, mais uma voz se ouve, aplaudida no final entre vozes mais altas: "ai fadista!"

Tasca do Jaime
Morada: Rua da Graça 91, Bairro da Graça, Lisboa
Telefone: 21 888 15 69
Horário: Sábados, Domingos e feriados das 16h às 24h
Comes e Bebes: Há vários petiscos e pratos. Entre as especialidades pastéis de bacalhau, chouriço assado e prato de tapas

22 de agosto de 2013

Passo a Passo

Foto de Romulo Mendes

Passos incertos. Passos apressados. Passos coordenados. Passos que se arrastam. Passos coloridos. Passos que dançam. Passos que saltam. Passos que se fixam. Passos que correm mundo. Passos que ficam. Passos que vão. Os meus. Os teus. Os nossos passos.

7 de agosto de 2013

Amanhecer

Pela janela (Agosto 2013)

A manhã a entrar pela janela de mansinho. Aragem suave e fresca. O cheiro a café. As torradas acariciadas com compota. E o silêncio. Aquele silêncio que faz crescer o sonho.

26 de junho de 2013

ÉVORA numa noite de verão

Évora - Praça do Giraldo
(Fernanda Azougado Junho 2013)













Encontro marcado com o amigo Cupido após o jantar. "Há um bar simpático no Inatel.", "vamos lá, não conheço."
A horas, o abraço frente ao Teatro Garcia Resende. Na esplanada do "Bar do Teatro", quatro, cinco pessoas, usufruindo da noite agradável. Seguimos o nosso destino contornando o Jardim das Canas, Rua de Santa Marta, Largo de Santa Catarina e entrámos na Rua Serpa Pinto.
Ruelas calçadas, silêncios quebrados pelos nossos passos, pelas nossas palavras atropeladas de presente e passado.
E, Inatel fechado! Com sorrisos, subimos à Praça do Giraldo. 
Évora adormecia. Às 22 horas. Numa noite quente de Verão.
A esplanada do café Arcada, a terminar de empilhar cadeiras. Meia dúzia de pessoas passeavam por ali.
Virámos à esquerda e subimos a Rua Nova. Ao cimo, à direita o "Mói-te", bar com esplanada num edifício imponente, com salpicos de gente. "Queres entrar?", respondo que não, que estive ali há dias, gostei, mas queria continuar. Por ruas estreitinhas, prosseguimos.
Évora - Templo de Diana
(Fernanda Azougado Junho 2013)

Templo de Diana. Mágico. Entre as colunas, de brilho baço, misterioso, uma das torres da Sé Catedral.
E, o pequeno jardim, deserto. O quiosque que ali existe, dormindo.
Tirámos fotos, rimos, conversámos. "Será que estamos acordados?"
Contornámos o Templo, descemos em direcção à Sé, descemos a Rua 5 de Outubro e, a meio da rua, discreto...UAU! " O Pateo", bar esplanada, num páteo com árvores e um poço de outras eras.
Ali havia gente. Conversas de várias nacionalidades. Música ambiente, pessoal simpático. Único senão, fecha à meia noite. Mas, conversa agradável não tem lugar nem hora.
Évora - Praça do Giraldo
(Fernanda Azougado Junho 2013)
Descemos à Praça do Giraldo. Algumas pessoas. Poucas.
De regresso ao Teatro Garcia de Resende cruzámo-nos com o mítico "Beato Salu", que interrompeu a sua "oração" para nos cumprimentar.
Durante o nosso percurso, pensei várias vezes, de como seria agradável, neste e naquele lugar, encontrar alguém, solitário, a tocar viola e, recordei, anos atrás, em Barcelona num cantinho junto à Sé, os acordes de uma viola e de uma voz que nos chamaram e, ali ficámos sem horas a ouvi-lo, até parar porque a humidade estava a danificar as cordas.
Se também estávamos adormecidos, foi um sonho aprazível, envolto na magia de Évora numa amena noite de Verão.


9 de junho de 2013

Clarice Lispector - A força das palavras


A hora da estrela - Clarice Lispector na Fundação Calouste Gulbenkian até 23 de junho 2013
(Foto Maria da Luz)
  "O que eu sinto eu não ajo.
   O que ajo não penso
   O que penso não sinto.
   Do que sei sou ignorante.
   Do que sinto não ignoro.
   Não me entendo e ajo como se me entendesse."
A descoberta do mundo


Sentir. Aprofundar. Palavras dentro das palavras. Além das palavras. Escritas. Ditas. Pensadas. Não pensadas. A essência das mesmas. A vibrar, quais cordas que se acariciam, simplesmente. 

Uma Vida. Continuada.

27 de janeiro de 2013

Bruxelas distante

Bruxelas - Foto da Luisinha

A chuva miudinha. O céu cinzento. Sobre as casas. Sobre nós. Regresso um ano atrás. Bruxelas. Onde, na altura, daria muito para ver um pouco do nosso céu azul, um pouquinho que fosse do brilho do nosso sol.
Os passeios de sábado à tarde. O 54 na Trinité até à Porte Namur, daí o metro à estação Rogier saindo no interior do City 2. Subindo escadas rolantes, desaguando em plena Rue Neuf, ladeada de lojas de todas as marcas, montras apelativas.
A música. Vagueava pelas ruas ao som da música do Equador, (tinhamos "rendez-vous" todos os sábados). Um pouco de calor no cinzento, na chuva miudinha, no vento suave, gelado.
Obrigatória passagem pela Grand Place. Onde, bem no centro, olhando ao redor, respirava fundo. A História. As gentes. Bruxelles!
Só. Na imensa multidão. Acompanhada pela saudade das pessoas que muito queria estivessem comigo partilhando cada pequenino grande nada.
A paragem num qualquer café. Que quentinho! Um pedacinho de calor sempre acompanhado com um bombom, uma bolachinha.
Ao cair da tarde, o regresso "chez titi Connie". Enquanto aguardava o 54, imperdoável o gauffre quentinho. Ainda hoje sinto aquele cheiro e o aconchego que me proporcionava.
As luzes da cidade aqueciam, docemente, as pessoas continuavam, sem alteração, sem mais pressa, alheias ao frio, à chuva, como se os lugares de destino não se alterassem nem um pouco. Estava certo. O destino. Assim como eu, tinha certo o meu. Aquela casa acolhedora onde me sentia num qualquer lugar do mundo. Os tons amarelo e azul forte da sala de estar, o bambu, as plantas, a música africana, o calor das velas acesas, o perfume quente e suave do incenso, o carinho, as longas conversas noite fora, os telefonemas de/para Portugal, as pessoas que apareciam, da África do Sul, Holanda, Síria...
A confirmação de que se estava no coração da Europa, no centro do Mundo.

Lisboa, Fevereiro 1996

24 de janeiro de 2013

Regresso

Há viagens ida e volta. Há viagens sem regresso. Após cada viagem não somos mais a mesma pessoa. Pequenas, grandes diferenças, mas jamais se regressa igual.

Esta ausência foi uma grande viagem. Não a volta ao mundo, não muitas pequenas viagens. Uma grande viagem. Ao interior do meu ser. Dum limite que não sabia alcançar.Afinal, ultrapassamos o que pensamos ser o nosso limite.

Houve sim, viagens sem retorno. Alguém que fazia parte de mim e, que continuará em mim. E, a minha própria viagem. Regressei. Estou aqui. Diferente. Mas estou.